Blog

Quem você pensa que ela é? Sim, a divina Juliette Binoche


Com o diretor Safy Nabbou, a diva Juliette Binoche

Vinte anos de um casamento que acabou porque o marido se apaixonou por outra mulher. Bem mais nova, já vou adiantando. Esse não é o ponto de partida de “Quem você pensa que sou” – filme que me deixou grudada na poltrona do cinema –, mas é o mote para um sem-fim de mulheres parar diante do espelho e se desapontar com o que vê. E se consumir com o que não vê: a raiva por ser colocada de lado, o medo da solidão, a necessidade de carinho, de ser tocada, cuidada.

É esta confusão de sentimentos que leva Claire (personagem de uma Juliete Binoche simplesmente arrebatadora no filme de Safy Nebbou) a abrir uma porta que ela não saberá cruzar quando chegar a hora, não saberá fechar quando o mundo real a chamar de volta. Pelos fios invisíveis das redes sociais, ela se enrola com Alex, um jovem que pode ser o atalho para Claire bisbilhotar a vida de Ludo, um namorado que lhe estava fazendo muito bem, obrigada, mas que também deu o fora.

Com Alex, o mundo real é o da paixão

Depois de criar um perfil falso no Facebook, não é nada difícil se tornar Clara Antunès, 25 anos de idade, boca carnuda, corpo fresco e jovem, e ir incendiando Alex com a malícia bem dosada que só uma mulher madura sabe oferecer. A bagagem que Clara nem de longe poderia ter é a munição para Claire dar corda, muita corda e assim tecer uma armadilha feita de paixão, de tesão, de dependência, de beco sem saída.

Ou será que tem por onde escapar a chama que lambe os amantes nas conversas sussurradas no celular? Nas mensagens que pipocam, dia e noite, no paradoxo do desassossego que inunda de êxtase e paz? Como dar vazão à vontade de ver, de cheirar, de se perder no outro, nesse turbilhão da paixão que se abriga (se camufla?) num outro rosto, numa outra idade, numa outra verdade?

Claire só tem a verdade dela, aquela que a chapa de desejo, tal qual um vício. Mas ela também é Clara, para quem tudo seria possível, se Clara não fosse o personagem para Claire escoar sua dor de mulher traída, deixada, que se esconde sob o tempo que passa e deixa marcas. “Ninguém é velho demais que não queira ser pequeno, cuidado”, diz Claire, encarando a médica psiquiatra, uma plácida ouvinte empenhada em conduzir sua paciente para fora do labirinto.

A atriz Nicole Garcia também dá um show como a médica psiquiatra

A vida é um quebra-cabeças e a paixão é o ladrão que vive a roubar peças, atiçando que se vá buscá-las mesmo quando se escondem à beira do precipício. Se você quer saber se Claire consegue montar seu puzzle, assista a “Quem você pensa que sou”, o filme que é, sem dúvida, uma das melhores criações de Juliette Binoche, e pode também ser um dos mais marcantes da décima edição do Festival Varilux de Cinema Francês.

(Em Santos, no Cinespaço Miramar, o filme “Quem você pensa que sou” será exibido ainda no dia 12, quarta-feira, às 20h45, e na sexta-feira, dia 14, às 18h40).

Acesse a programação completa no site http://variluxcinefrances.com/2019/

 

contato@veraleon.com.br

Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

Siga-me: