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Um príncipe pra chamar de…

Que atire longe a sonhada coroa aquela que nunca se sentiu (ou quis ser) uma princesa! Mesmo depois de mais de três bilhões de pessoas terem voltado os olhos para a tela da televisão ou do computador para acompanhar o casamento do príncipe Harry e sua plebeia Meghan, tem muita gente pregando o fim de uma fantasia que tem alimentado gerações pelos tempos afora. Por mais que tenham uma fiada de argumentos para desligar a TV, as detratoras do espetáculo mundial não vencem esse arquétipo que alimenta o feminino: o sonho universal de portar uma coroa e, à tiracolo, um príncipe para chamar de seu.

Conversei com a psicóloga junguiana Iara Chalela Genovese e ela confirma que “somos ou gostaríamos de nos sentir assim (princesas)”. E para não deixar dúvida da maestria de como tudo isso foi exibido ao mundo, na ensolarada manhã de sábado, Iara lembra: “Existe uma expressão, ‘para inglês ver’, que é uma marca da família real britânica, especialista em mostrar que faz casamentos sagrados, o hieros gamos, que representa a união dos opostos, como o nobre com a plebeia”.

Somos todos príncipes e princesas, reforça a psicóloga, “todos nós gostaríamos de que nos aparecesse um príncipe encantado ou alguém que de alguma forma nos alçasse a uma condição superior. E se for pelo amor, um amor legítimo, inquestionável, melhor ainda”. Os olhares trocados entre os dois, a confissão entredentes do noivo olhando encantado para a noiva (“você está incrível”) fizeram o povo suspirar do lado de cá das telas e repetir yes, o amor é lindo! Ainda que, pelas redes sociais, o olhar de Meghan tenha virado um dos memes mais difundidos, como sendo o olhar de alguém que nunca mais vai pagar um boleto… Começa que boleto é coisa de terceiro mundo e ela nem deve saber do que se trata.

Apesar de as aspirantes a princesas já terem riscado do caderninho a palavra obediência, há um rito que ainda se cumpre e, na opinião de Iara Genovese, não muda tão cedo, “pois não se derruba um arquétipo em uma geração”. Continuaremos sonhando com um príncipe, talvez não mais num cavalo branco, mas num carro potente, porque “o arquétipo do casamento sagrado traz a ideia de encontrar a sua metade, de se realizar, aquela imagem do serão felizes para sempre”, assegura a psicóloga. Para ela, a realeza britânica vendeu bem esta imagem, dando a ideia do humano a um ritual pautado pelo protocolo. “A emoção da mãe de Meghan Markle, por exemplo, traz esse componente”.

Vale lembrar, ainda, o marketing natural que tamanho espetáculo fabrica, menciona Iara, “provocando o desvio de opinião pública, num momento de Brexit, em que a Inglaterra vem sendo alvo de uma série de ataques, desde os terroristas até os ideológicos, atraindo um olhar simpático à realeza e ainda aquecendo a economia, gerando renda, dando margem a uma fortuna incalculável, que vai do turismo à produção de todo tipo de lembranças do casamento”.

E como os contos de fadas sempre dão margem a mais uma história, depois dessa quem quiser que conte outra…

contato@veraleon.com.br

Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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