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Cuidado! O amor está no ar e não passa de um golpe

Quando a silhueta esbelta e elegante de Debra Newell toda vestida de azul vai se definindo na tela, e seus passos ganham a cadência tensa de quem vai dar de cara com o horror, não dá para imaginar que muito antes ela já havia dado as mãos (e o resto também) ao demônio. No caso, ele atende pelo nome de John Meehan e faz com aquela mulher madura, rica, bonita e bem sucedida um par que deu o que falar na vida real e rendeu a série Dirty John – O golpe do amor, lançamento recente da Netflix que não deixa a gente levantar do sofá nem para um xixi.

Debra conheceu John num aplicativo de encontros, esse recurso que tem feito muita gente passar horas agradáveis com alguém supostamente afinado, alguns casais até chegando a juntar as escovas de dentes e sendo feliz quem sabe para sempre. Mas tem levado a encontros desastrosos, como o que está sendo fartamente noticiado hoje no Brasil. Uma empresária de 55 anos (a mesma idade da Debra real, quando o caso aconteceu, nos EUA, em 2014) agredida durante 4 horas, dentro do próprio apartamento, no Rio de Janeiro, no primeiro encontro com um homem com quem ela vinha conversando há oito meses na internet.

Dirty John não vai assim direto ao ponto. Não é algo que chega pronto, dizendo que a bela Debra vai se queimar com fogo ao se envolver com um cara cuja apresentação não compromete: médico, ex-combatente no Iraque, divorciado de uma mulher que não o deixa ver as filhas… Ingredientes para tornar John um sujeito interessante, apesar de desagradar de cara a filha de Debra, quando ele toca a campanhia da cobertura onde moram mãe e filha. E se ele ainda é bom de conversa, se é gentil a ponto de lhe dar na boca uma colherada da sobremesa, se mostra interesse pelas coisas que Debbie conta… por que não deixar que ele se aproxime tanto a ponto de fazer arrepiar a nuca da bonitona?

O que leva uma mulher, qualquer uma ainda apropriada de autoestima, que paga suas contas, que gosta da imagem refletida no espelho, que já passou por alguns relacionamentos… enfim, que não é nenhuma Bela Adormecida, a cair no golpe do amor com um dos tantos Johns sujos soltos nesse mundo? Talvez porque mesmo com todos os invejáveis atributos de Debra Newell – bonita, madura, bem sucedida e rica – ela ainda deveria agregar um homem à tiracolo. Se esta ideia é totalmente nonsense para você, que vai muito bem obrigada sem um moço para chamar de seu, para o pensamento comum é quase regra levar a vida em par. Quem escapa desse mandamento vive a pressão nem sempre silenciosa do mundo em volta e responde a essa cobrança fazendo, às vezes, escolhas insensatas.

Antes que o mundo cobre, no entanto, mulheres arrebatadas por tipos como John já estão reféns da carência e da solidão que as colocam ao alcance do predador. Querer encontrar o amor, sonhar com uma vida a dois mesmo na idade madura é natural, saudável e possível, desde que não seja com uma venda nos olhos, desde que a luz instintiva não esteja desligada, desde que a velha pulga não saia de trás da orelha. No caso de Debra Newell (Connie Britton), algumas pistas da natureza suja de seu sedutor John Meehan (Eric Bana) vão aparecendo ao longo da trama, mas nada que não possa ser apagado por uma boa conversa, um desdobrar de gentilezas e cuidados e uma cama caliente.

Quando Debra abre os olhos, a sujeira de John já deixou marcas profundas.

Serviço –

Dirty John – O Golpe do Amor / Série Netflix

Número de episódios: 8

Número de temporadas: 1

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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