Me chame pelo seu nome
Oliver (Armie Hammer) e Elio (Timothée Chalamet) na descoberta da paixão
Até que enfim consegui assistir ao filme Me chame pelo seu nome. A curiosidade ia além da premiação no Oscar 2018 (Melhor Filme, Melhor Ator para o jovem Timothée Chalamet e Melhor Roteiro Adaptado), pois me sentia provocada pela unanimidade dos aplausos para o longa do diretor italiano Luca Guadagnino, desde sua estreia no Brasil, em janeiro último. Tema delicado – a história de amor entre o adolescente Elio e Oliver (Armie Hammer), um homem de 28 anos, que mais parece uma escultura talhada em carne em osso – e ainda tão rejeitado por tantos, seja no rol dos preconceitos mais sombrios, seja quando traduzido nas mais sensíveis manifestações artísticas, o amor entre dois homens encontra na plasticidade concebida por Guadagnino o tom exato da beleza, da sensualidade, do erotismo que se vai desenhando em fogo lento, mas sempre aceso.
A história se passa no verão italiano, em uma indefinida cidade ao norte (na verdade, é uma vila no centro de Milão), onde o sol, a brisa, a água, a preguiça e o desejo atiçado vão costurando as férias da família de Elio, cujos pais, professores universitários, sempre hospedam, nesta época do ano, um estudante trabalhando em alguma tese acadêmica. Aquele é o verão de Oliver na vila de muitos quartos, luzes do amanhecer e sombras do anoitecer, e a chegada daquela pessoa solar alvoroça as meninas do pedaço e o menino Elio, também, que nos seus 17 anos é a soma de uma fina intelectualidade (não tivesse ele os pais que tem) e uma confusa explosão de hormônios.
Tem muito passeio de bicicleta pelas ruas quietas do vilarejo, tem muito banho de piscina e calor que faz ferver as ideias, tem mesa posta ao ar livre e apetites que parecem insaciáveis. E tem a gente do lado de cá, acompanhando os passos ora tímidos da paixão que se insinua, ora ligeiros e explosivos no ritmo que alucina, só confirmando que aquilo à flor da pele vai, em algum momento, se abrir ao sol e às estrelas.
Tudo é belo em Me chame pelo seu nome. Até a hora da dor, implícita na natureza de um sentimento como esse, que não cabe no peito e nem dentro das calças. Nada tão intenso se sustenta no “foram felizes para sempre” e a história contada por Guadagnino (adaptada do livro de André Aciman por James Ivory) desemboca na dor, sim, mas também no mais belo encontro entre pai e filho que já vi no cinema. O diálogo entre os dois deveria servir de pauta para pais, educadores e os jovens com suas escolhas por vezes tão incompreendidas, não apenas do ponto de vista sexual, mas todas inerentes aos conflitos que nascem das escolhas.
Sentados no sofá, respeitando a profunda tristeza de Elio, o pai é firme quando diz “apenas lembre-se que estou aqui”. Que poucas palavras tão fundamentais! Um olhar pleno de aceitação e amor, um colo à disposição e uma lição que eu gostaria de escrever na pele, para ler em todos os dias de ser humano que sou, às voltas sempre (se Deus quiser!) com outro ser humano, seja ele quem for. Diz assim esse pai:
“Nós arrancamos tanto de nós mesmos para nos curarmos mais depressa das coisas, que ficamos esgotados perto dos 30 anos. E assim temos menos a oferecer toda vez que começamos algo com alguém novo. Mas se obrigar a ser insensível, assim como não sentir nada… Que desperdício! Como você vive sua vida é da sua conta. Só lembre-se: nosso coração e nossos corpos nos são dados apenas uma vez, e antes que perceba, seu coração estará esgotado. E seu corpo chega a um ponto que ninguém olhará para ele. Muito menos querer chegar perto dele. Agora, você sente tristeza, dor… não as mate. E muito menos (mate), a felicidade que você sentiu”.