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Precisamos falar sobre Evelyn


Evelyn foi um rapaz alegre até os 18 anos, quando foi diagnosticado com depressão e esquizofrenia

Pode parecer que Evelyn, o filme que acaba de entrar na Netflix, seja somente para quem perdeu para o suicídio alguém querido. Não é isso, embora o foco esteja exatamente aí, num trabalho profundo, triste e catártico realizado pelo cineasta britânico Orlando von Einsiedel, um documentarista que se coloca na frente da câmera para contar a incrível jornada dele e dos dois irmãos, Gwennie e Robin, no tributo a Evelyn, o irmão que tirou a própria vida, há 13 anos, quando tinha apenas 22 anos de idade.

Como lidar com a dor, a impotência e a culpa dos que ficam? Orlando, Gwennie e Robin não conseguem, durante mais de uma década, falar do acontecido e do efeito doloroso para cada um. Silenciar não é o melhor caminho, não está fazendo bem a ninguém, e Orlando decide, então, sair com os irmãos em uma jornada percorrendo os caminhos que Evelyn também andou, da Escócia à Inglaterra. Ao longo desta marcha, que começa levando junto a mãe, outras pessoas intimamente ligadas à vida de Evelyn vão se integrando ao percurso, como o pai do jovem e mais dois amigos.

Há um ‘Evelyn’ nas lembranças de cada um desses caminhantes. Há um amor imenso e uma dor igual pelo drama que ninguém conseguiu evitar. Há uma confissão da saudade e uma catarse por todas as coisas não ditas, ao irmão morto e, especialmente, aos que ficaram depois que Evelyn se foi. Chorei em vários momentos do documentário, emocionei-me com as paisagens deslumbrantes, tive vontade de abraçar aqueles irmãos e aqueles pais.

Os irmãos e a mãe saem numa jornada catártica em memória de Evelyn, que se matou

Penso que lançar o filme agora tem uma razão direta com o Setembro Amarelo. Bom que tenhamos a oportunidade de um trabalho tão sério e humano como um convite à reflexão. Mas o grande mérito do filme de Einsiedel é que ele não é datado; ele traz à luz todos os Evelyn que decidem tirar a própria vida e não encontram pouso dentro daqueles que ficam. Dói além da conta aceitar que um ente querido morreu assim e que não pudemos interromper seu mergulho para o adeus. Treze anos se passaram para que a família conseguisse, enfim, chorar, falar, se abraçar, começando, quem sabe, a partir dessa jornada heroica, finalmente encontrar para Evelyn um lugar de paz.

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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