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Um filme que ativa nossa livraria interna

Por Ivani Cardoso*

Quando lemos uma história, nós a habitamos. Ela amava o momento em que o livro termina e a história continua acontecendo como o sonho mais vívido em sua mente”.

Se um filme começa assim, só pode ser bom, eu penso. Florence Green (Emily Mortimer ) é a personagem principal do filme A Livraria, da cineasta catalã Isabel Coixet, adaptado de um romance de Penelope Fitzgerald. Florence é uma viúva apaixonada por livros, que depois da morte do marido resolve ir em busca de um sonho e abre uma livraria em uma pequena cidade cinza da Inglaterra, em 1950. A população do vilarejo não vê necessidade ou tem simpatia pela ideia, mas mesmo assim ela vai em frente, desafiando a mulher mais poderosa do local que deseja construir, na casa comprada por ela, um centro de artes do tamanho do seu ego.

Nossa empatia é imediata com Florence, talvez porque quem gosta de ler tenha bem lá no fundo o sonho secreto de ter uma livraria como a dela. O amor com que toca os livros emociona. Em sua luta, ela traz cores para a vila e encontra coragem até mesmo para trazer muitos exemplares do livro Lolita, de Nabokov, uma grande ousadia para a época e região.

Ela encontra abrigo em Edmund, um velho solitário (Bill Nighy) que também tem por hábito esse estranho ato de ler, e em uma menina cheia de imaginação (a ótima Honor Kneafsey), dois companheiros importantes em sua jornada perpassada por tantos autores que também fazem parte da nossa.

Não vou contar mais para não estragar as surpresas e os sentimentos que vão aparecendo. A frase que encabeça o cartaz de divulgação do filme diz quase tudo: “Entre livros, ninguém pode se sentir sozinho”. Eu sei, e quem busca essas companhias inesperadas, assustadoras, criativas e instigantes dos livros sabe bem que é muito verdadeira.

Para dar mais vontade de assistir:

https://www.youtube.com/watch?v=OVqS1kz6wt8

*Ivani Cardoso é jornalista