Caso ou compro uma bicicleta?
Quando a vida nos coloca numa encruzilhada, a gente costuma dizer, na brincadeira, que não sabe se casa ou se compra uma bicicleta. Mais fácil comprar a bicicleta, mas dar conselhos para alguém numa situação de escolha pode nos colocar em posição desconfortável.
Mas como me fazer de surda diante de um jovem de 25 anos que está, neste momento, em busca de resposta para a escolha entre o estágio recém-conquistado e a chamada para uma universidade federal, em outro estado? Como deixar pai e mãe, abrir mão do conforto desse ninho e escapar do colo generoso que é certeza na família e nos amigos? Mas, pensando bem, como dar as costas ao novo que acena e nos chama para o nunca visto, para o surpreendente, para todas as possibilidades?
No fundo, quando os conflitos se apresentam e nos fazem perder noites de sono e até a fome, acredito que já sabemos a resposta. Ou, pelo menos, para onde nos inclinamos. O que nos consome é não conseguir dimensionar qual escolha nos fará perder menos e definir, enfim, uma atitude. Sim, alguma coisa sempre se perde e experiências deixarão de ser vividas, mas recusar-se ao movimento da vida, esse que ora nos faz reis e ora nos põe mendigos, é conformar-se que a realidade seja um beco sem saída.
E não é. O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard disse que “Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se.”,pensamento do qual sou defensora e que pauta muitas das minhas escolhas. Perde-se, sim, o equilíbrio quando o norte do momento é o imponderável, mas é na tentativa de manter-se na corda bamba que se desenvolvem pés firmes, conhecedores do chão por onde caminhamos. Quantas vezes nessa mudança de rota toma conta de nós o impulso de voltar, girar a chave na porta e abrigar-se nas veredas já percorridas!
Não é pecado voltar, repousar a cabeça no travesseiro que tem cheiro de infância. Não é errado sentar-se à mesa no lugar que sempre foi nosso e tomar o mesmo café de tantas outras manhãs.Tudo é válido quando o que se atende é a voz da alma, que pede um pouco mais de tempo, um pouco mais de asas. No entanto, para voltar, é preciso ir, provar, temer, cair, levantar, olhar de novo o horizonte e calcular se vale a pena um novo salto.
Reconsiderar é sinal de humildade, de maturidade, de aceitar limites que, naquele momento, não podem ser rompidos. No entanto, para que não cortemos prematuramente as asas que crescem em nós ou nos nossos filhos, é fundamental aprender uma verdade. A de que “muitas e muitas vezes estamos renascendo. Não é suficiente nascer do útero materno… Muitos nascimentos são necessários. Renascer sempre, muitas e muitas vezes”.
Esta é a lição para quem quiser ler pela cartilha de Tatsumi Hijikata, o coreógrafo japonês que nasceu em 1928 e na década de 1950 criou o butô, a dança que expressa o que o ser humano tem de verdade em sua alma, sem máscaras, sem alegorias. Se há um conselho, ele se resume a este ensinamento: dance.