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O mundo encantado onde nascem as bonecas de Zahia

Quando a gente entra na Casa Linda, tem-se a impressão de que se abriu a porta para um mundo encantado. Mais que uma loja para comprar coelhos e coelhas orelhudas para tornar ainda mais temática a festa de Páscoa, o lugar é uma viagem ao reino da fantasia para encontrar, em harmônica convivência, desde um Santo Antônio barrigudo a um bem vestido Popeye, espiando quietos de uma prateleira. Para onde os olhos se voltam, a imaginação ganha asas e uma história começa a ser contada.

Tudo isso sai da cabeça sempre esperta de Zahia Assaf Carduz, que nos seus 78 anos de idade tem muito para oferecer, além das aulas que ministra na sua oficina. Não conheço ninguém que ensine a fazer bonecas e é esta habilidade que Zahia passa à frente, nas aulas semanais, sempre às terças-feiras, que ministra no seu ateliê no Gonzaga, em Santos. Alunas que chegam para três horas de aula e acabam ficando por um tanto de tempo a mais, felizes naquele reino criativo e certamente terapêutico.

No andar de baixo, ficam as obras prontas, pintadas, decoradas, cheias de encanto. Na sobreloja, entre gavetas, gavetinhas, cestas, caixas organizadoras e prateleiras abarrotadas se acomodam tecidos, retalhos, botões, linhas, lãs, madeiras, e uma parafernália que nem o mais atento detetive conseguiria dar conta de decifrar. É ali que as alunas começam a dar vida a um personagem, orientadas pela criatividade inesgotável de Zahia, e podem ir para casa levando, prontinho, o resultado do trabalho. Claro que depende de quem vai “nascer” nas horas de oficina, mas a professora diz que é possível, sim, sair com o troféu do dia.

Inesgotável é a palavra para definir Zahia, pois já se vão mais de 50 anos desde que ela fez a primeira boneca. Era de se esperar que já estivesse cansada, mas a imaginação não para e de um cipó seco pode sair uma guirlanda enfeitada com cenourinhas gorduchas, coelhos e ovos de chocolate. Para a porta da maternidade, pode ganhar vida um arranjo que anuncia se naquele quarto tem uma menina ou um menino recém-chegado ao mundo. Se é mês dos santos juninos, a Casa Linda muda de cara e ganha as cores e os tons da roça, que mudam quando chega o Natal e tudo fica vermelho, verde e fraterno.

E de onde vem esse gosto por tantos personagens? Primeiro, vamos considerar que Zahia é canceriana e esse amor pelas coisas da casa já veio com ela. Depois, pense em alguém que precisava atender seu jeito feminino de ver a vida, incluindo na rotina os moldes e a confecção de bonecas. E, quem sabe, a necessidade de preencher com o lúdico o espaço ocupado por nossa criança interna. Assim, quando nasceu o primeiro dos seus cinco filhos, a “mamãe” Zahia foi dando à luz outros filhos, esses da sua imaginação, feitos com lã, tecidos coloridos, feltros, algodão e a impressão de que fariam felizes outras pessoas, assim como seus rebentos de carne e osso trouxeram luz à sua vida, que hoje segue em frente com os netos.

Dá gosto entrar no mundo dos sonhos de Zahia. Nesses tempos das coisas prontas, da produção em série, dos contornos plastificados, é divertido e envolvente fazer a própria boneca. É terapêutico também, pois desperta o potencial criativo que, muitas vezes, só precisa de alguém com paciência para ensinar que das nossas mãos podem nascer belezinhas que ninguém fará igual.

*O Ateliê Casa Linda fica na Avenida Ana Costa, 476, loja 18.

@casalindaloja18

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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