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Paul e Stella, o par que faz a gente perder o sono em The Fall

 

A conversa entre Stella Gibson e o dr. Larson é um prato cheio para quem encontra no mundo dos sonhos a orientação para a vida acordada. Esses personagens estão na série The Fall, um drama psicólogico que se passa em Belfast, Irlanda, e me grudou no sofá por muitas horas (são três temporadas, 17 episódios), fascinada com as personalidades da detetive Stella (Gillian Anderson), da polícia de Londres, e do seu perseguido, o serial killer Paul Spector (Jamie Dornan), um pacato pai de dois filhos, casado, atendente num serviço de acolhimento a pessoas em luto ou tendências suicidas.

Ou seja, o moço está acima de qualquer suspeita… Mas quando ele mata, ele mata, e à medida que aquele sujeito sedutor vai aprontando uma pior que a outra, a gente fica do lado de cá da telinha (é uma série que está na Netflix, há um pouco de tempo, mas abalou a Irlanda e o Reino Unido há uns anos) esperando quando Stella vai pôr as mãos nele. Mas até que ponha, Stella sonha, acorda sobressaltada, anota no seu diário de sonhos… se intriga com as peripécias oníricas (acho que todo sonho é assim, cheio de espantos). E parece que tem sempre o domínio da situação. Até o dia em que Paul Spector encontra o diário da detetive! E faz, ele mesmo, suas anotações, depois de ficar sabendo desse mundo mais que secreto que os sonhos nos contam. No caso, os sonhos de Stella. Não falei que Spector é um hábil capeta?

Mas Stella é durona. Nem assim, flagrada na intimidade do seu diário pelo serial killer, ela fica fora da casinha. Sabe que está perto de render Spector (mais ou menos…), sabe que está vulnerável, sabe que o assassino a conhece do avesso, e dr. Larson (psiquiatra chefe de uma instituição onde, em algum momento da trama, Spector ficará sob observação) pode ser um interlocutor à altura da Stella sonhadora. Pelo telefone, num diálogo cheio de pausas e silêncios, eles conversam:

Dr. Larson: “Por que você mantém um diário de sonhos”?

Stella: “No início, era uma ferramenta de investigação. Eu me treinei para acordar durante a noite e anotar. Escrevia pensamentos aleatórios. Acho que virou uma espécie de compulsão”.

Dr. Larson: “Então, você vê os sonhos como uma forma de resolver seus problemas?”

Stella: “Acho que talvez o cérebro adormecido faça conexões mais rápidas do que a mente acordada”.

E eu, que não sou tão sabida quanto a Stella, posso assegurar que os sonhos me ajudam, sim, a saber mais de mim mesma. E, se me conheço melhor, estou mais preparada para resolver meus problemas, ainda que os sonhos nos falem por enigmas.

Mesmo que você não seja assim tão chegado ao mundo dos sonhos, não deixe escapar The Fall. Guarde umas horas para a série britânica, uma das melhores produções que assisti, com interpretações magistrais, suspense, sangue frio e a dor dos abusados apresentada como uma fratura exposta. Paul Spector é o resultado desta dor, é o produto da alma irremediavelmente corrompida, e mesmo sendo tão torto na vida, não há como não torcer por ele. Até mesmo sua queda é só mais uma vitória. Desta feita, sobre Stella.

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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