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Sensualidade além da pele, além do tempo…

As muitos jovens que me perdoem, mas é preciso um certo tempo de passeio pela vida para saber dessa coisa tão subjetiva que é a sensualidade.

É preciso ter guardado um certo pudor da infância, algo de ingenuidade que se manifeste nos gestos e no olhar. É preciso ter presente, de um jeito não explícito, a malícia da adolescência, esse período da vida em que os sonhos são absolutos e quase nada foi provado.

É preciso ter mantido, com renovado mistério, o espanto da transmutação que nos conduz à vida adulta, tornando-nos donos do nosso próprio destino. É preciso ter parido, com o ventre ou com o coração, filhos do nosso sangue ou filhos do sentimento, seres que nos ensinam a reaprender, a cada dia, o sentido da humanidade.

É preciso saber perceber, sem medo e sem constrangimento, que o tempo nos chega, e que ao nos fazer passar dos 20 para os 30, dos 30 para os 40 e dos 40 para novos horizontes, nos surpreendemos com as inúmeras possibilidades que ainda nos reserva a caminhada no mundo.

Mas para que se revele essa mulher sensual, uma condição básica se faz necessária: amar a si mesma como um experimento único da natureza, a quem a Criação concedeu o poder de perceber e de perceber-se. De perceber que dentro dela e além dela há um universo a ser desvendado e nessa exploração se cumpre o exercício do encontro. O encontro com sua bagagem humana, cheia de imperfeições e carente de correções, mas sua, unicamente sua, dando-lhe a marca do inconfundível.

Ao perceber-se, ao acreditar-se como um ser que vai além do corpo físico, esta mulher começa a viver sua sensualidade e já não teme mais qualquer encontro. É no amadurecimento do EU, é na sintonia do seu reino interno com o mundo externo, que ela veste a sensualidade como uma segunda pele.

Nada estudado, nada que tenha a ver com artifícios, com poses, com caras e bocas, mas unicamente com o seu jeito de colocar-se no mundo, oferecendo-se ao sol e à chuva com o mesmo prazer. Ao perceber-se assim, ao gostar-se assim, o encontro com o outro se reveste da mesma magia, e todas as mulheres que habitam dentro dela – a criança, a adolescente, a mãe, a amiga, a esposa, a confidente, a amante, a perversa, a ciumenta, a doida e a santa – vão se mostrar sem medo, sem pudores, sem censuras. E sabendo-se multifacetada, conhecendo a sua bagagem humana e bela, ela saberá entender e receber o seu homem, o homem que lhe chega também tão cheio de arestas.

Não falo da sensualidade que se revela na cama, com iluminação adequada, lingerie escorregadia ou nenhuma lingerie, onde a fantasia corre solta e homem e mulher passam a ser o playground um do outro. Esta também existe e é fundamental no encontro físico, mas ela se mistura à sexualidade que faz os parceiros perderem os limites do corpo físico, do tempo, do espaço, dos condicionamentos, e o que impera é o instinto, a comunhão de peles.

A sensualidade antecede o ato, atravessa o ato e sobrevive a ele. Ela está no desembaraço para falar do encontro depois que ele se consuma. Ou para ficar calada, quando as palavras não vão acrescentar mais nada. A sensualidade feminina é um jeito de prender o cabelo, amarrar o tênis, fazer a comida, preparar a mesa, escutar o seu homem, conversar com a natureza, chorar por nada, torcer no futebol, rir com o desenho animado. É mais: é colocar-se no mundo como um ser criativo e receptivo, integrado física e psiquicamente e assim fazer-se única, inconfundível e inesquecível.

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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