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Sou Setembro Amarelo

Todos os dias eu encontro uma razão para viver. Não importa quão irrelevante ou grandioso seja esse motivo, sempre é algo suficiente para me dar suporte e dizer “vai, Vera!”. E eu vou, à procura de uma alegria ou de uma luta, eu vou. Pode ser fazer um bolo, um texto, esperar um vídeo do neto amado, alinhavar uma palestra, beber um vinho, furar a dieta solenemente, me colocar sob o comando dos meninos da academia, bater na porta da vizinha e oferecer um docinho. Cada coisa tem seu apelo, seu sabor, seu desafio.

Às vezes, nesse embalo do “vai, Vera!”, encontro encrenca, dor de cabeça, dissabor, cara amarrada, má vontade… Encontro gente de ego DESSE TAMANHO e alma pequeninha assim, atropelando tudo, atropelando-se. Mas eu vou, porque já sei que tudo passa. O que é bom e o que é ruim. Ou, como nos diz o rabino Nilton Bonder, em vez de “ruim”, o que é amargo. Porque até o que parece ruim acaba sendo bom, quando se está aberto a aprender a lição. Cada coisa a seu tempo e cumprindo seu ciclo, tudo passa.

Sei que não é assim para todos. Há milhões de pessoas mundo afora que não encontram a menor razão para abrir as janelas. Há pessoas, bem perto de nós, que mais pensam em desistir do que se envolver com a vida, mesmo quando ela parece linda. Mesmo quando ela é linda. Não sei como é a depressão, mas por tudo o que já li e já ouvi, ela pode ser a dama silenciosa que arrasta para além tantos de nossos amados. A depressão não é a única causa, mas o seu poder é indiscutível.

 

Quisera poder motivar quem se vê cansado. Quisera saber as palavras que convidam aos bailes da vida. Quisera tornar mais encantador o lado de cá do que o lado de lá, mesmo sem saber o que tem do lado de lá. Eu apenas imagino, pois minha fé aponta para algumas paisagens. Mas, como eu disse, há coisas que não transmitimos e eu fico na vontade de querer fazer, ajudar, chamar. Tenho em mim a vontade. E tenho também o ombro. E o ouvido. E o poder de assegurar, como o poeta, que, se “tenho em mim todos os sonhos do mundo”, o outro também pode ter. Mas, isso tudo é vontade, intenção.

Então, me engajo na Campanha de Prevenção ao Suicídio que desde hoje nos chama para entoar o coro de que viver vale a pena. Sou pelo esforço de olharmos atentamente à nossa volta e evitar que mais alguém escolha o caminho do suicídio. Sei do livre arbítrio, este princípio soberano de todo indivíduo. Sei ainda que, diante do ato extremo, não nos cabe qualquer julgamento. Sei também que “não sou nada”, repetindo o poeta. Mas sei – e disso não tenho dúvida – do quanto precisamos uns dos outros, do quanto somos todos um, do quanto nenhum homem é uma ilha. E de quanto o número 188 – CVV (Centro de Valorização da Vida) é a mão estendida para trazer de volta quem está quase desistindo.

Por isso, sou Setembro Amarelo.

 

 

 

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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