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O barro é como a gente, diz a ceramista Mônica Cunha. “Se amolda ao toque…”

Mônica Cunha em plena função no ensolarado ateliê do Condomínio Ville de Montagne[/caption]

Quando você terminar de ler esse texto, duvido que não queira conhecer o reino de Mônica Cunha, a ceramista de olhos brilhantes e sorriso largo como a lua cheia que se vê no céu de Brasília. Sim, porque para estar com Monica você terá que ir à Capital Federal, porque é lá que ela mora, se inspira, cria e deixa a gente maluca querendo levar para casa tudo o que está no ateliê que ela montou na própria casa, no Condomínio Ville de Montagne, nas proximidades do Lago Sul.

A vida não pede somente um pouco mais de calma, um pouco mais de alma. Pede beleza também. A arte pode juntar tudo isso e se traduzir em um sem-fim de motivos, sejam pétalas, pássaros, céus, ondas, letras que vão formando palavras, palavras que contam histórias, histórias que se tornam únicas na mão do artista.

E artista é o que Mônica sempre foi. De pai e mãe, sem exagero algum. O pai, militar de carreira, levava os fins de semana a fazer móveis. Deve ter inspirado Paulo, irmão de Mônica, a fazer todos os móveis da casa onde mora, na Suíça, sem usar pregos. Onde precisou de um, Paulo fez, em madeira. O outro irmão, Luiz (que assina os trabalhos como Ratão e você pode conferir dando um Google), faz uma arte que impressiona: ele cria mosaicos a partir de papel picado, tendo como inspiração a cultura pop.

Tudo pode inspirar Mônica Cunha a criar delicadas belezas na argila

DNA de pai e de mãe também, relembra Mônica, ao dizer que sua arte, que já passou pelo óleo sobre tela e há alguns anos se encanta com a cerâmica, “vem desde que eu nasci”. “Minha mãe sempre foi artesã. Ela pintava lencinhos, cortava as pontas do pincel para ficar apenas dois fiapinhos, bem fininhos. Na época não tinha tinta própria para pintar tecido, então ela usava uma técnica de passar o ferro quente para fixar a tinta. Aí passou a pintar lenços grandes, vestidos, fazia colares. Nunca compramos enfeites da árvore de Natal e nem os presentes, porque nós fazíamos tudo!”.

Com toda essa genética, a alma só podia ser de artista e, como tal, sempre em busca do próximo encantamento. Aconteceu quando descobriu a argila como matéria-prima e viu que entre ela, criadora, e a obra, criatura, havia tão somente sua inspiração, sua delicadeza, sua força. Mônica diz que “todas as outras artes têm uma coisa entre o criador e a sua criatura… um pincel, um martelo. No barro, é você e o barro, e mesmo depois de ir ao forno para a queima, o material continua vivo. Tanto é que os quadros não podem receber vidro antirreflexo porque ele transpira. É muito mágico tudo isso!”.

Como se não bastasse a beleza das formas e cores que brotam de sua sensibilidade, Mônica ainda descreve assim a experiência de trabalhar com a argila: “O barro é dócil ao nosso toque…. como nós. A gente se derrete, se amolda ao receber um toque gentil e o barro é igual, vai ficando do jeito que a gente quer”. Nesta analogia, tem um outro lado ao que o barro se presta, ensina a artista. “Quando trago a argila bruta da beira do rio, ela vem cheia de impurezas e é preciso tirar as bolhas de ar. E aí é a hora de bater no barro para tirar o ar. Esse é o outro lado desse processo, porque às vezes a gente está precisando bater”. Ah, e como!

Zelosa de suas obras, cuida delas como se fossem filhos. Diz que se entretém tanto com o trabalho no ateliê que às vezes esquece da hora de comer. Fica ‘inventando’ como vai compor, como vai juntar o que encontra pelo caminho – palha, bambu, rendas, pau de canela, joguinho americano, suplats – e o barro sendo moldado pelas suas mãos. Depois de deixar o mundo da publicidade, por onde também provou da criatividade, dedica-se somente ao barro. Agora, dando vida também a peças menores, como cartões e marcadores de livro, por exemplo, de extrema delicadeza.

Entre as obras de Mônica, um quadro do irmão, Luiz ‘Ratão’, com a imagem de Renato Russo, trabalho em papel picado

Mas se lhe pedirem um quadro do tamanho de uma porta, acredite, ela faz! Já fez e o resultado é marcante. Como também é o efeito de alguns textos que vão parar no meio dos quadros, ou são o próprio quadro. Como um que fez há muito tempo e que, de tão mensageiro, pensa em fazer de novo. Que tal um quadro todo branco, guardado em uma moldura “vermelho paixão”, com um pássaro trazendo a poesia de Pablo Neruda, revelado em uma frase que não é pouca coisa: 

Para meu coração teu peito basta. Para que sejas livre, minhas asas.

Mônica Cunha está no Facebook, no Instagram e no Condomínio Ville de Montagne.

contato@veraleon.com.br

Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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