Blog

O incrível azul de Majorelle

E no meio do caminho tinha um jardim… e bem no meio dele tinha um azul que não se comparava a qualquer outro que eu tivesse visto! Foi assim, sem saber exatamente o que estava buscando, o meu encontro com o Jardim Majorelle, um oásis que mais parece uma miragem bem no miolo da empoeirada e vermelha Marrakech.

Cenário exótico associado principalmente ao estilista francês Yves Saint Laurent (de origem argelina), pois lá ele deixou registros do seu amor pelo Marrocos, imprimiu marcas da sua genialidade e se deitou em cinzas após a morte, aquele jardim botânico encerra muito mais história, que vem lá do começo dos anos 1900. Bem antes de Saint Laurent, um outro francês se encantou pelo exótico país do norte da África e é dele que vem o nome do jardim: o pintor Jacques Majorelle, que visitou o Marrocos pela primeira vez em 1917, voltou em 1923 e e por lá se instalou, encomendando ao arquiteto Paul Sinoir a construção de uma casa onde viveu.

A vida ficou difícil para Jacques, depois de um divórcio, e em 1947 ele decidiu abrir ao público a casa e o jardim singular, com plantas de várias partes do mundo, inclusive do Brasil. Morreu em 1962 e a propriedade ficou ao abandono, até ser vista e despertar a paixão de Yves Saint Laurent e seu parceiro, Pierre Bergé, em uma visita que ambos fizeram a Marrakech. E em boa hora (1980), eles compraram aquele pequeno mundo, pois o terreno seria vendido para a construção de um hotel. Lá passaram a viver, trazendo mais plantas (cactus, bambus, buganvílias), tornando maiz azul aquela cor que passaria a ser conhecida como o azul de Majorelle, e tomando toda aquela exuberância para inspirar as criações que encantaram o mundo da moda.

Plantas de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, criam a atmosfera exótica

A maior prova de amor de Saint Laurent ao Marrocos e àquele refúgio onde foi feliz, ousado e ele mesmo é que, ao morrer, em 2008, suas cinzas foram colocadas no Memorial Yves Saint Laurent, construído numa área do jardim, por entre as plantas, as fontes, as pedras, onde o silêncio e a brisa lhe fazem companhia, e o olhar do turista o adivinha.

As cinzas de Saint Laurent repousam no memorial em Majorelle

Embora o Jardim Majorelle esteja no centro da barulhenta Marrakech, com acesso pela Rue Yves Saint Laurent, há um silêncio que confirma ser o lugar um oásis mesmo e essa atmosfera misteriosa nos convida a ficar, desperta uma curiosidade ímpar, nos atiçando a perscrutar a história, os encontros, as risadas, os murmúrios da vida vivida ali. Além de um museu de arte marroquina, com peças da cultura berbere, o lugar abriga ainda uma galeria com mais referências de YSL. São alguns exemplares da série Love, cartões que ele criou para oferecer às clientes mais fiéis de sua maison, entre elas a musa Catherine Deneuve. Mais um testemunho de sua genialidade, ao alcance dos olhos e da admiração dos que se perdem no azul de Majorelle.

contato@veraleon.com.br

Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

Siga-me: