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O Retorno de Ben é um filme de mãe

Não era hora ainda de Ben voltar para casa. Ainda mais numa véspera de Natal, justo ele que já havia dado tanto trabalho na festa do ano passado, deixando a família de cabelo em pé. Mas, filho é filho, e quando Holly, chegando em casa com os outros filhos, avista Ben com cara de desconfiado, ela tem a reação que toda mãe teria: sai do carro e explode num abraço.

Nem todos o recebem assim. Ivy, a irmã, entra em pânico; Neal, o padrasto, deixa claro que o rapaz não é bem-vindo. Aliás, melhor que nem esquente lugar e volte para onde estava. As primeiras cenas de O Retorno de Ben (em cartaz no Cinespaço Santos, do Miramar Shopping) dão a medida do drama que vai se desenrolar com um conflito mais que evidente entre o bom-senso que é mandar Ben de volta e o instinto materno, que acredita no próprio taco e no espírito pacificador de uma noite de Natal.

Setenta e sete dias numa clínica de reabilitação para dependentes químicos não são suficientes para aquela família confiar que Ben se recuperou. Ou que vá se comportar. Mas, como botar pra fora de casa, naquela neve toda, aquele moço de olhar pidão? Holly (Julia Roberts em desempenho intenso, passional) se compromete a não tirar os olhos de Ben (Lucas Hedges, filho do diretor, Peter Hedges) e ela se coloca mesmo como a sombra do filho dependente químico.

 

Uma coisa é o discurso. Outra, bem diferente, é a vida real. Que pode ser cruel se você deixou um rastro de destruição por onde passou, com marcas profundas em pessoas que não serão nada compreensivas com as boas intenções de Ben. Uma coisa puxa a outra e não demora para que as tentações se levantem e coloquem os fantasmas no calcanhar de Ben, agora confrontado com sua própria miséria.

Holly faz mais, muito mais do que esconder os remédios da casa e as joias num fundo de armário. Isso é nada diante do seu compromisso de salvar o filho. Nesta tarefa (que toda mãe vai entender com as entranhas) de resgatar Ben, ela terá que caminhar com ele pelos subterrâneos das escolhas das quais o menino tenta se curar. Nem a face desconhecida de Ben faz a mãe recuar.

É quase como parir de novo, mas agora um filho cheio de marcas. Ainda assim e sempre, seu filho. E só então a gente entende que Ben voltou para casa na hora certa. Para nascer de novo.

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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