Para Renata Gaia, gastronomia é paixão e competência
Sob o olhar atento de Salvador Dali, a chef Renata Gaia tem recebido para almoço e jantar no Surreal
Sou do tempo em que festa boa era aquela que tinha picles. Se não servissem os tais espetinhos com uma boa rodela de salsicha na ponta… ah, não era a mesma coisa! O tempo passou, ainda deve ter muito ‘parabéns a você’ com os picles fazendo sucesso, mas a fila andou e bem depressa. O sinônimo de festa boa mudou muito, ganhou novos formatos e requer ingredientes muito mais criativos, além de serviço impecável para um público hoje mais conhecedor do que compra e exigente com o que lhe entregam.
Renata Gaia sabe disso e vem fazendo sucesso há mais de 13 anos, quando entrou no mundo da gastronomia que, até então, para ela existia apenas no prazer de receber a família e os amigos em casa, preparando para eles as artes de quem ama cozinhar. Foi desta paixão e levada também por contingências da vida, que pediam um novo olhar para o amanhã, que nasceu Renata Gaia Gastronomia. Na prática, tudo bem diferente do que sempre fez como educadora, como referência que é na direção do Colégio do Carmo, mas bem semelhante quando o profissionalismo é o ingrediente a definir Renata. Seja recebendo alunos e seus pais no cotidiano do Carmo, seja criando cardápios que fazem a diferença nos salões.
O mundo corporativo também é contemplado com sabores, perfumes e combinações da boa mesa
Ou fora dos salões, como é o caso do momento atual, à frente do Surreal, o restaurante cujo menu leva sua assinatura e tem feito sucesso na Santos Arquidecor, mostra em cartaz até dia 15 deste mês. É lá, sob o olhar instigante de Salvador Dali (onde Renata me recebeu para um bate-papo), que se pode provar, por exemplo, um salmão à Frida Kahlo (com crosta de castanha e risoto de brie ao siciliano) ou um mingnon a Miró (com molho de pinhão e risoto de alho-poró com crispis crocantes), entre mais de dez opções para almoço e jantar. A verdade é que a gente já começa a se ‘perder’ com as sugestões de entrada, que passam pelo dadinho de tapioca com geleia de pimenta, e se rende completamente ao final, com a pera quente ao vinho com sorvete de creme, uma das sugestões de sobremesa.
Descobrir o que dá certo na combinação de ingredientes é fruto de pesquisa, aprendizado e sensibilidade. E lá se foi Renata ao encontro de quem podia ensinar, mestres daqui e do exterior, para aplicar às exigências do seu público. Já tem agenda marcada para o começo de 2020 e reconhece que a técnica é um diferencial importante, mas precisa de um bom serviço para se sustentar, como frisa Renata Gaia. Boa observadora que é, sabe muito bem que “a maior queixa das pessoas é sobre serviço ruim, é o convidado ficar olhando e não aparecer ninguém para atender. Esperar a comida passar, servir oito pessoas e faltarem dois. Invisto muito no profissional, na escolha de quem vai trabalhar comigo, levo mais garçom do que qualquer bufê, para todo mundo ser bem atendido. A exigência do bom serviço não é apenas no meu segmento, mas em tudo, porque as pessoas conseguem realizar uma festa com muito sacrifício, estão pagando por qualidade, e por isso exigem mais profissionalismo”.
Os casamentos combinam um trio imbatível: comida, bebida e música, com a marca da sofisticação
Atender a essa demanda mais qualificada exige que a chef Renata Gaia se reinvente, especialmente nesses tempos em que a gastronomia se apresenta com o conceito de confort food, a comida servida em pequenas cumbucas e cuja variedade não tem limites. “Antes, a gente sentava a uma mesa com umas dez pessoas e quase não levantava, a não ser para dançar uma música e voltava, ou para se servir quando a estação com os pratos estava colocada. Tinha-se então uma salada, arroz, uma carne e uma massa. Hoje, mesmo em uma festa de casamento, as pessoas ficam muito mais na pista do que sentadas à mesa porque a atração é boa música, bebida e comida, um trio que dá para compartilhar na pista, em pé. Daí o sucesso do confort food, que não usa faca, pode comer comidas quentes sem estar necessariamente à mesa, e permite variedade incomum”, garante a chef.
Outro componente do trabalho de Renata Gaia é a presença, é estar por inteiro, atenta e acolhedora. Enquanto durar a Santos Arquidecor, ela estará lá, recebendo sempre com um sorriso, com aquele seu jeito de ser que eu conheço há mais de 30 anos, quando na porta do Colégio do Carmo ela recebia meu filho e tantos outros aluninhos chegando para mais uma jornada. Este, sem dúvida, é o diferencial de quem abraça com amor as suas causas: “estar por inteiro”, como bem define Renata. Esteja ela levando no peito a marca da escola ou da sua gastronomia. Na essência, tem alguém que ama o que faz.
