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Procura-se o Bolhão

Estou bem acostumada a me perder por aí. Meu senso de direção (netuniano) me leva para a esquerda quando o destino é à direita e vice-versa… E não foi diferente quando me pus a procurar o Mercado do Bolhão, num dos miolos mais movimentados do centro da cidade do Porto, em Portugal. Naquele vaivém que não para nunca na tal Rua Santa Catarina de muitos comércios e tentações a cada passo, tive que perguntar algumas vezes para onde estava o Bolhão, um ponto que eu deveria conhecer, segundo insistência da amiga Giselle Marques, que já viveu no Porto em tempos idos. Mapas? Ah! Demoro tanto para entendê-los que prefiro no boca a boca, quando isso é possível. E, no caso, era, porque o português de lá entende o português de cá!

Vira aqui, vira ali…. e no meio da quadra já percebo que estou próxima, porque algumas casas, como A Pérola do Bolhão, me dizem que finalmente acertei o caminho. Paro, maravilhada ante a vitrina que mistura a delicada pintura em sua fachada e as carnes defumadas penduradas e também amontoadas, a espalhar o cheiro característico por ali. Não me animei a entrar porque a fome falava mais alto e ali, certamente, não encontraria nenhum à la carte ou um PF no capricho.

Na outra calçada, a vitrina me atraía bem mais… Uma profusão de bolinhos (nunca tinha ouvido falar em queques) dos mais variados sabores, folhados, tortas e palmiers e um espaço maior só para os pastéis de nata, esse atentado ao bom-senso recheado daquele jeito que a gente não esquece nunca mais. Seja porque o gosto fica para sempre na memória, seja porque o colesterol vai às alturas, com tanta gema e tanto açúcar. Mas, viver é preciso! E se for com prazer, melhor! Pensei que se morasse naquela cidade, eu bateria ponto todos os dias na Confeitaria do Bolhão!

       

O prédio do Mercado Bollhão é centenário, inaugurado em 1914, mas está bem largado, bem abandonado, embora se fale de restauração desde o ano passado. O noticiário local fala em dois anos para a conclusão das obras, orçadas em 27 milhões de euros. Mesmo assim, com seu aspecto deteriorado, sem atrações lá dentro, o Bolhão conserva o pitoresco da sua natureza, com umas poucas bancas a servir peixes, flores, artesanato local, frutas secas, vinhos e comida fresca, feita na hora, nos restaurantes simples que atraem os turistas.

O Restaurante Fernanda Dias, pela calorosa acolhida das meninas, foi o meu escolhido e mais certeiro que ele, duvido que encontrasse ali, embora outros estabelecimentos dividam espaço e são também convidativos. Para uma alérgica a frutos do mar como eu, melhor não inventar moda. Pedi o salmão grelhado com batas cozidas… e aiiiiiiii, senhor dos mares, o que foi aquilo! Divino salmão, macio, úmido, saboroso, para comer sem pressa, bebericando uma sangria, enquanto ao sol banhavam-se gentes e aguavam-se as plantas.

      

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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