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Qual o sentido da Quarta-feira de Cinzas para você?

Lembro, quando muito menina e o carnaval fazia parte da brincadeira das crianças da rua, que a chegada da Quarta-feira de Cinzas era um acontecimento. Temido, eu diria, pois a mãe dava a este dia uma grandeza plena de mistérios, uma reverência que eu, na minha meninice, estava longe de entender ou mesmo de cumprir como princípio espiritual. Mas a gente (eu e os irmãos) se esforçava e obedecia à ordem de ir à igreja receber o sinal de cinzas na testa, e aquele ritual parece que nos absolvia de qualquer travessura cometida nas folias da rua.

Voltávamos para casa com aquele ar contrito de quem sabe que “Deus está vendo”, como a mãe fazia questão de nos lembrar, e a certeza de que a conta entre pecados e virtudes estava zerada. A idade madura me trouxe o interesse e o respeito pelos rituais, de qualquer religião, por entender que eles apelam à nossa alma para que nos religuemos ao Todo, à Sabedoria que tudo rege, dentro da ordem que escapa à rasa compreensão humana.

 

E hoje, primeiro dia da Quaresma no calendário cristão universal, o simbolismo das Cinzas, quer nossos passos nos levem à igreja ou não, quer voltemos para casa com a testa marcada ou não, nos convida para a reflexão, para olhar a passageira e frágil vida humana, com a morte a nos esperar na sua certeira escolha.

Entre esses dois tempos que nos regulam, o agora e o derradeiro suspiro, inclinemos nossas testas ante o Deus que nos habita, pois se Ele vê tudo, como ensinou a mãe, que lhes mostremos, então, a melhor das nossas intenções ante o efêmero que somos todos.

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