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Não tenho pressa. Inspire-se para viver o momento

E acabou janeiro. É lugar comum dizer “parece que foi ontem” toda aquela correria para organizar a ceia, comprar presentes, acompanhar o noticiário da Lava Jato e de um suspense chamado Donald Trump, separar um dinheiro para fechar o ano sem (tanta) dívida e, claro,fazer as pazes com as pendências de 2018 e, ação imediata, preparar a lista de compromissos para este ano do qual o primeiro mês já voou.

E foi nesse ontem que já nos escapa das mãos que nos comprometemos com um amanhã que em seguida já não é, pois já passou, deixando confuso e tonto aquele que pensa ter o poder de organizar as horas segundo sua vontade, sua necessidade. Que nada! Olha só que já se fala em Carnaval, os blocos de rua antecipam um calendário que só existe no papel, na ansiedade incontrolável de prever, provar, definir.

Então, em qual tempo podemos ser, de verdade, senhores do destino, se não nesse agora em que meus dedos estalam, os olhos piscam e … cadê o abraço que estava aqui,a orquídea que floriu cedinho, o perfume que passou ligeirinho? Confesso que tamanha pressa me traz uma certa angústia e daí minha necessidade de contemplar, de deixar para amanhã o que não precisa ser feito hoje, contrariando a máxima que todos conhecem, para dedicar-me, egoisticamente, a mim mesma, na busca do que é essencial.

E o que é essencial deve alguém estar se perguntando? Cada um sabe de si, eu diria, mas encontrei nas palavras de um padre português, Anselmo Borges, uma pista para me manter vigilante. Diz o padre, que é também ensaísta e professor na Universidade de Coimbra: “Do pior do nosso tempo é a banalidade rasante, o presentismo consumista e saltitante de um momento para outro momento, na dispersão de que falava Pascal, sem consistência nem projeto. O que daí resulta é o vazio e o tédio, na voragem de um tempo hedonista”.

E vai além, ao encontro desta minha reflexão: “No início de um novo ano,talvez não fosse mau parar um pouco para pensar, meditar e ir ao essencial. Afinal, o tempo é o tempo de nos fazermos, no quadro de um projeto decente e digno. O que queremos fazer de nós, uns com os outros?”.

Se vamos, então, contar o tempo pelo calendário sobre a mesa, qual é a medida que ele lhe dá, nesses 11 meses que restam para uma outra grande virada? Falta muito? Falta pouco?