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Vamos até Brick Lane?

Algumas coisas (muitas coisas, aliás!) você não pode deixar de  fazer em Londres, capital inglesa, se quiser saber por que a terra da Rainha Elizabeth II é um dos principais destinos turísticos do mundo. Por exemplo: ver a troca da guarda no Palácio de Buckingham, repetir o feito dos Beatles atravessando na faixa em AbbeyRoad, parar em Piccadilly Circus e escolher para qual lado ir, olhar a cidade de cima andando nos ônibus vermelhos de dois andares (double-decker), ou olhar mais de cima ainda instalando-se em uma cabine da London Eye, a Millennium Wheel (Roda do Milênio), a roda-gigante à beira do Rio Tâmisa,que faz a gente se sentir no topo do mundo.

Porém, há um outro tanto de descobertas a serem feitas por quem quiser chegar mais perto do jeito londrino de ser. Guardar as pernas para um longo passeio por Notting Hill (por onde também bateu saltos a deusa Julia Roberts, em Um Lugar Chamado Notting Hill), xeretando na feirinha da Portobello Road, é uma dica. Mas se quiser ser ainda mais  local, deixe o domingo para caminhar por Brick Lane, a região  mais que alternativa de Shoreditch, bairro a leste de Londres e que talvez você já tenha ouvido falar por causa de Jack, um cara que aprontou muito, mas muito mesmo, e até ganhou um codinome: O Estripador.

Foi há muitos anos, no final do século 19 (1888), que o tal assassino de mulheres fez do que fez, mas até hoje sua história horripilante atrai olhares dos que passam em frente ao The Ten Bells, o pub onde ele teria escolhido duas de suas 11 vítimas (há quem defenda que houve mais outros sete crimes): Annie Chapman, que passou pelo pub e tomou uns tragos por lá, e Mary Kelly, prostituta que fazia ponto na esquina da Comercial Street. Essa história mexe tanto com o imaginário coletivo que tem até o Tour de Jack, diariamente, percorrendo aquela região que, ao tempo do assassino, era uma grande favela e zona muito perigosa de Londres. E como cada um reage à sua maneira diante de símbolos tão fortes, é bem curioso conhecer alguns recados para Jack, escritos nas paredes dos banheiros doTen Bells. Desde um explosivo “Queime no inferno” até um debochado (ou seria carinhoso?) “I loveyou, Jack”…

Hora das comprinhas!

Depois de bisbilhotar os obscuros caminhos percorridos pelo serial killer e suas vítimas, um pouco de leveza, excitação e uma certa irresponsabilidade esperam por você ali nas redondezas. É que na rua principal e nos seus atalhos e becos há um sem-fim de brechós e sample sales, razão suficiente para fazer as meninas (mais que os meninos, claro) surtar com a possibilidade de muitas comprinhas por preços que só vendo (e comprando) para acreditar. Essas lojas vivem apinhadas de gente, com a mulherada experimentando as peças sem nem buscar um provador (é por cima da roupa que se está usando…),e segurando convicta os tesouros encontrados. Nos brechós é possível, por exemplo, encontrar um casaco de pele por 30 pounds (o mesmo que libra, a moeda oficial, e abreviando na escrita, pds) ou um trench coat alinhadíssimo por 60pds. Por 5 pds encontram-se scarfs (écharpes/lenços imensos para o pescoço) de todo jeito, quentinhas, macias, um acessório que compõe qualquer visual. Multiplique esses valores pela cotação do dia e terá, aproximadamente, o valor em reais para cada peça.

Sua conta vai aumentar sensivelmente quando passar diante das vitrinas das sample sales, mas não hesite em entrar, porque elas valem muito mais a pena do que qualquer liquidação que você conheça.Em tradução livre, sample sale seria venda da amostra, porque é em eventos do tipo que os designers de moda vendem (com descontos  inacreditáveis) peças feitas como amostras da coleção. Ou sobras de coleções passadas. Em Brick Lane acontecem várias do tipo,reunindo grifes alternativas e algumas renomadas. E o curioso desta dinâmica de venda é que a sample sale de hoje pode não estar lá amanhã, porque outro fashionista já se instalou com suas criações.

Na dúvida…compre!

 

Descobrir as originalidades de Brick Lane – com tanto restaurante indiano, paquistanês,  tanta moda vintage e um forte cheiro de curry no ar – inclui apreciar a arte de rua que o pessoal do grafite cria a céu aberto, noite e dia, reforçando a evidência de que o lugar é mesmo um acontecimento. As mais diferentes tribos circulam por lá e enquanto alguns ocupam calçadas com suas latinhas de spray colorido, grafitando muros, paredes, galpões, outro tanto para, acompanha os traços que vão nascendo da inspiração dos artistas e, muito àvontade, se põe a tirar fotos.

Desde que foi mudando de cara, no século passado, passando de área com péssima frequência a um centro vanguardista (ganhou ainda mais estrutura nas Olimpíadas 2012), os estudantes de arte foram chegando, atraídos pelos mercados de roupas e antiguidades, e deram a Brick Lane a singularidade que a distingue nacapital britânica.

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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