Sra. Rosane, menos!
Ainda que eu não tivesse coisa melhor para fazer, não teria assistido à entrevista de Rosane Collor ao programa Fantástico. Certos comportamentos (alheios) me constrangem e um deles é este, de lavar roupa suja em público, como se ao escancarar os porões escuros do passado tivéssemos direito a um salvo-conduto para transitar em territórios de suposta inocência. Mesmo não esperando pelas declarações de Rosane, não é difícil saber o que foi ao ar, até porque não faltam comentários aqui e acolá, dando conta das tais revelações.
Minha intenção não é comentar sobre isso ou aquilo que foi dito, porque do pouco (que é muito, nessas situações) que sei nada é muito relevante. Como os tais R$18 mil de pensão, insuficientes para a coitada viver (com R$ 40 mil ela já não passaria tanto aperto), ou os rituais de magia negra que o célebre marido sustentou e que certamente não aconteciam em alguma tribo africana, mas no quintal da moça. O que incomoda é o tal cesto de roupa que um dia foi muito conveniente, que um dia a prestigiou no cargo, que contemplou as vaidades da hoje desprovida de benesses, e que agora se transforma em uma montanha de trapos dos quais a loira senhora quer se livrar. Ou, quem sabe, com suas lembranças desprendidas, que vão compor um oportuno livro, atrair a simpatia (seria compaixão?) dos que consigam enxergar naquele blablabla alguma consistência que redima a sra. Rosane da comédia mambembe da qual foi protagonista. Ou é.
Todos temos memórias de amores que um dia viraram desamores. Ao olhar para trás, naquela reflexão de “se eu pudesse viver de novo a minha vida…”, pode ser que nem todos os escolhidos para a nossa intimidade, de amigos a amores, ocupasse hoje um lugar de honra. Mas um dia, incontáveis dias, foram companheiros de jornada, e com eles nos sentamos para dividir o pão. Seja na mais tosca mesa do quarto e sala, seja nos palácios míticos que o poder proporciona, já nos comprometemos e acreditamos, de verdade, que aquela era a melhor escolha. Porque se não fosse, por uma questão de honra e de lealdade, ao que se é e ao que se viveu, teríamos caído fora, atravessado para a outra calçada, seguindo em frente, porque é para o norte que se anda. Retroceder, mexer no baú em busca de esqueletos que não assustam mais ninguém, é um movimento dos pobres de espírito, tenham ou não R$ 18 mil todo mês na conta bancária.
Na mesma linha, esse revolver a terra já bem pisoteada dos separados me faz lembrar certos homens e mulheres que, ao decidir pelo divórcio, começam a guerra perigosa de insultos e ameaças, não raro usando como escudos, covardemente, os filhos. Das juras de amor dos casais e do projeto de vida em comum sobraram ressentimentos, decepções, traições, e quem paga a maior fatura dessa conta são os filhos, que sequer foram consultados quando papai e mamãe decidiram juntar as escovas de dente. Há os que, no extremo da crueldade e covardia, proíbem o parceiro de ver e conviver com os filhos, num gesto de egoísmo que trará sérios danos emocionais no desenvolvimento dessas crianças. Pais com esse perfil ainda são capazes de dizer que é tudo pelo bem dos filhos…
A sra. Rosane e seu ex Fernando não tiveram filhos, pelo menos, para servir como moeda de troca nesse momento de reivindicações. Que ele não é nenhum santo não vamos nem perder espaço com isso, mas a sra. Rosane também não convence ao fazer revelações dos tempos em que viveram juntos. Foi ali, ombro a ombro, de mãos dadas e com as mesmas ambições, que o casal acumulou aquele tanto de roupa para lavar. Não há varal, agora, que sustente tanta cara de pau.