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De repente, a adolescência. Como lidar?

Nesses tempo de adolescentes em busca de referências, é natural a inquietação de mães e pais com suas crias. Recebi, por e-mail, o apelo de uma jovem mãe falando de sua menina sobre algo inocente, sem dúvida, mas que nos dias de hoje ganha proporção, tira o sossego. Diz ela que tem uma filha de 12 anos que lhe pergunta se poderia ir ao cinema com um amiguinho. Acontece que o menino tem 15 anos. “Eu deixei”, diz a mãe, “mas confesso que estou com medo, afinal, nessa fase, três anos é uma grande diferença. O que eu faço?”. 

E de repente, a menina desabrochou, descobriu um amiguinho e você se viu enrolada no desassossego. É isso, Mãe? Natural sua inquietação, porque no mundo em que criamos hoje nossos filhos não há qualquer certeza de que eles estão protegidos e livres de todo o mal, pois os apelos vêm de todos os lados,com cobranças que fragilizam nossos pequenos. Proteger a cria é o anseio de quem prepara os filhos para a vida, mas à medida que vão assumindo o próprio caminhar, ganha força também esta sensação de que eles nos escapam, de que suas asas começam a ensaiar o movimento do voo que mais dia, menos dia, vão empreender.

Como a segurança não está do lado de fora e não virá do mundo externo, o seu principal apoio, o mais sólido, onde poderá sustentar o seu discurso, está na qualidade do diálogo que mantém com ela e dos valores que lhe são passados. O temor demonstrado nas suas palavras, em tomar a decisão certa, revela sua preocupação em buscar a medida equilibrada para lidar com a questão. Aos 12 anos, descobrindo que novas experiências começam a entrar no universo até aqui infantil, sua filha se comporta como alguém que confia plenamente em você, contando e pedindo autorização para ir ao cinema com um amigo. Sinal claro de que o caminho de diálogo entre as duas está fluindo e é por ele que você vai transitar para falar dos seus temores, sem dúvida, legítimos.

Poucos pais se sentem à vontade para falar com os filhos pré-adolescentes sobre esse momento de mudança. Quase nunca eles sabem por onde começar, mas eu diria que não existe um plano de fala, um aspecto mais ou menos adequado para abrir os trabalhos. Primeiro, Mãe, investigue quais são os seus próprios medos, reflita sobre os pontos que a perturbam (quem sabe, desde a sua própria adolescência), avalie se esses conteúdos procedem, se são pertinentes para aquilo que você conhece da sua filha, da sua índole, da sua formação.

Você tem medo que ela troque um beijo com o menino? Que ele seja invasivo e avance limites? Por que não pergunta à sua garota o que ela imagina sobre ir ao cinema acompanhada de um amiguinho, pela primeira vez? Como ela pretende lidar com algo que a ponha em desconforto? Pode ser que você ouça uma resposta que atenue seus medos, que ela queira apenas fazer a estreia da independência, ver um filme e ter com quem discutir o conteúdo, alguém da sua realidade infanto-juvenil. E confesse sua insegurança. Ficamos mais fortes quando compartilhamos nossas angústias ou assumimos nossa impotência, pois damos ao outro a oportunidade de se abrir também e colocar suas interrogações. Divida com ela a responsabilidade do momento. Traga para a conversa os ensinamentos que transmitiu, os valores que sustentam seus princípios.

Fale sobre a importância de não queimar etapas,um risco tão presente no comportamento dos jovens hoje. Os pais se cobram muito no sentido de ter todas as respostas, mas a realidade nos ensina que criar um filho é um aprendizado, um ato de amor renovado a cada minuto dentro desta dinâmica de lidar todo o tempo com um ser humano. Nem eles e nem nós somos seres prontos, mas é conosco que aprendem a se construir. Dê para sua filha a melhor matéria-prima. ●

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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