Mãe gentil és tu, Brasil
Nunca gostei da palavra expatriado porque me trazia a ideia de alguém que está solto no mundo, sem chão e sem céu, sem origem e sem destino. Por escolha, tornei-me o que o dicionário define como “uma pessoa que vive fora do seu país de origem e reside no estrangeiro”. Expatriada há 7 meses, sendo eu uma estrangeira em Portugal, poderia encher páginas de um livro com a experiência desde então. Não é o caso neste momento. Isso deve ficar para algum outro tempo em que eu já não olhe com tanta saudade “as coisas que lá deixei”…
Hoje, acordei pensando que minha pátria chega aos 200 anos da sua independência. Aquele sentimento de não pertencer deu uma trégua e enchi-me de um certo convencimento de ser filha deste solo. Na história do mundo, minha pátria é uma jovem senhora de exuberância singular, malgrado a maneira como tantos a tratam. Sim, minha terra “tem palmeiras onde canta o sabiá”, tem “povo heroico e de brado retumbante”, “fontes murmurantes” onde a gente pode matar a sede. Assim abundante e dadivosa, perfumada e colorida, sonora e acolhedora, a terra brasileira nunca ocultou sua vocação de mãe gentil.
Daqui, não sei cantá-la com a beleza dos poetas, mas dedico-lhe as minhas melhores lembranças. Desde a infância no Macuco, em Santos, onde nasci e a quem pertenço na escolha espiritual que fiz, até os dias de hoje, neste sítio onde aprendo a ser gente, nascendo de mim todos os dias. Sou brasileira, e ter esta consciência e orgulho deve sustentar os meus dias de “lugar nenhum”, deve colocar-me entre os que trabalham (onde quer que estejamos) para que a Mãe Gentil não perca jamais o seu porte de gigante pela própria natureza. Os falsos profetas, tenham eles as cores e as falas que tiverem, venham de onde vierem, não têm poder para dar-lhe o que já nasceu consigo, bela senhora.
Feliz aniversário, Brasil.
(Foto Pixabay/Kurious)
(Texto publicado em 7 de setembro 2022 no Facebook @veraleon)
