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Mulheres que correm com os lobos

Foi no meu aniversário de 45 anos que ganhei de presente, da amiga Leila Marnoto, o livro Mulheres que Correm com os Lobos. Desde então, digo que “leio”, assim com o verbo no tempo presente, a obra de Clarissa Pinkola Estés, pois cada vez que me encontro com uma de suas páginas, mais eu descubro de mim. Então, ele se tornou não apenas meu livro de cabeceira, mas um guia da vida interna, onde mora uma turma cheia de poder, quer se fale de um Barba Azul, quer eu procure a sabedoria da boneca Vasilisa ou a menina dos sapatinhos vermelhos. Ah, quantos são os mundos dentro de nós!

Falo dos contos (são vários, cada um mais instigante que o outro) que formam o material principal do livro, que depois de narrados por Clarissa são por ela “desfolhados”, digamos assim, e a história contada com graça ou drama, mistério ou fantasia… ou tudo isso junto acaba sendo a história da alma selvagem feminina, de La Que Sabe, aquela que sabe dentro de nós e que clama para ser ouvida. Esta sábia contadora de histórias, analista junguiana de rara sensibilidade, chama a atenção para o fato de o termo “selvagem” ser usado em seu sentido original, “de viver de forma natural”. As palavras mulher e selvagem “fazem com que as mulheres se lembrem de quem são e do que representam. Elas criam uma imagem para descrever a força que sustenta todas as fêmeas. Elas encarnam uma força sem a qual as mulheres não podem viver”.

Como ler essas palavras e não ser tocada por elas, como sentir esse alcance profundo e não se entregar ao convite para seguir as mulheres que correm com os lobos?

Este é, portanto, o livro que mudou a minha vida porque me levou a conhecer, por meio de contos e da análise profunda desta fantástica Clarissa, americana de origem mexicana, que existe no universo feminino territórios e habitantes que precisamos conhecer, percorrer, abraçar, olhar nos olhos, compreender, se render ou afugentar, se for o caso. Dos tantos trechos que grifei, alguns já com a tinta desbotada no meu velho livro, fica o chamado de suas palavras:

“Para encontrar a Mulher Selvagem, é necessário que as Mulheres se voltem para suas vidas instintivas, sua sabedoria mais profunda. Portanto, vamos nos apressar agora e trazer nossas lembranças de volta ao espírito da Mulher Selvagem. Vamos cantar sua carne de volta aos nossos ossos. Despir quaisquer mantos falsos que tenhamos recebido. Assumir o manto verdadeiro do poder do conhecimento e do instinto. Invadir os terrenos psíquicos que nos pertenceram um dia. Desfraldar as faixas, preparar a cura. Voltemos agora, mulheres selvagens, a uivar, rir e cantar para Aquela que nos ama tanto. Para nós a questão é simples. Sem nós, a Mulher Selvagem morre. Sem a Mulher Selvagem, nós morremos. Para a verdadeira vida, ambas têm de existir”.

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Repórter especial em jornais santistas e assessora de imprensa em São Paulo e Brasília, nas equipes de ministros e secretários de Estado. Especialista em Psicologia Analítica Junguiana e Constelação Familiar.

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