Vivendo todos juntos. Será?
Eu e alguns amigos andamos com umas ideias na cabeça… A cada aniversário e com mais uma velinha no bolo, fica claro para nós, aos nos aproximarmos do sétimo setênio de vida, que a velhice bate à porta. Digamos que com uma certa insistência, até… E o melhor é recebê-la bem, por mais que na bagagem ela traga um manual de novas regras de vida.
Não dá para ter tapetes em casa, por exemplo. Pelo menos é o que pregam. Mas como viver numa casa sem tapetes? É aconselhável instalar barras de apoio no banheiro e dizem que é bom fazer palavras cruzadas. Nossa, não tenho a menor paciência para tentar adivinhar “dinheiro devolvido pelo caixa” com cinco letras. Tudo bem… essa é fácil, todo mundo sabe que a palavra é troco, mas tem cada uma cabeluda!
Voltando aos amigos sexy(genários) e às ideias, ficamos muito inspirados pelo filme E se vivêssemos todos juntos, onde cinco amigos fazem exatamente isso: embora ainda deem conta de suas vidas cada um na sua casa, se organizam e vão morar juntos (dois casais e um avulso, bem paquerador), em uma confortável propriedade, no difícil exercício do conviver. Até porque envelhecer é muito mais do que jogar fora os tapetes. A passagem do tempo pressupõe, como diz a psicóloga Maria Célia Abreu (autora do livro Velhice – Uma nova paisagem), desenvolver a capacidade de apreciar novas paisagens.
Apesar de a ideia nos atrair de verdade, ninguém se mexeu ainda para definir, pelo menos, em qual lugar vamos viver. Até porque dois moram em Brasília, um casal vive no interior de São Paulo, e há outro par que se mudou faz tempo para o Canadá. Onde esse povo vai se juntar? E qual o tamanho da casa para acomodar nossas histórias, nossas rabugices, nossos fantasmas e fantasias, esse gás que acende curiosidades e vontades? Como lidar com os orçamentos de aposentados, uns com mais outros com menos? Como dar às famílias a notícia de que um bando de velhos decidiu formar uma república?
Até escrevi sobre o filme, tempos atrás, e desde então passei a olhar com interesse a ideia. Vivermos todos juntos parece, inicialmente, uma ideia de doido (dentro e fora da tela), mas à medida que o grupo de idosos (no filme) vai tomando decisões – como resgatar um deles de uma clínica onde o filho o colocou, numa fuga que beira à traquinagem – esta escolha se revela saudável e resgata uma certa dignidade que se vai perdendo.
Ao jovem é mais difícil lidar, por exemplo, com os esquecimentos dos mais velhos, mas aos seus pares isso parece até natural. Numa cena desta produção francesa, enquanto observa, de uma janela, o movimento da rua, Albert (vivido por Pierre Richard) se pega num desses esquecimentos: “será que já levei o cachorro para passear?” Segundos de reflexão e ele conclui: “acho que sim, pois se não o cachorro estaria reclamando”.
Não é?